quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Shows gospel com dinheiro público


Foto de reporterdecristo.com



No dia 12 de novembro Búzios vai fazer mais um aniversário. O 17º. Para comemorar a data, o prefeito resolveu, como sempre fez, menos em 2009 (a herança maldita do Toninho serviu até pra justificar a não realização de festas!), realizar vários shows a partir do dia 9. Teremos bandas laicas local, Kid Abelha e NXZero, e os gospel católico Canal da Graça e evangélico Thalles Roberto. 

Quando as coisas viram hábito ninguém questiona, mas será que o prefeito está certo em contratar bandas gospel com dinheiro público, já que o Estado brasileiro (e a Prefeitura buziana) é laico? Se a contratação ocorresse com dinheiro privado não haveria questionamento algum. Por exemplo, se o prefeito contratasse com o dinheiro dele, não teria problema algum. Mas contratar bandas gospel com o meu e o teu dinheiro me parece que não está certo não. Senão vejamos. 

O estado laico é aquele oficialmente neutro em relação às questões religiosas. Se é neutro, não pode apoiar nem se opor a nenhuma religião existente. Não só isso. Tem que respeitar também a descrença religiosa. Em um estado laico todos os cidadãos brasileiros (e buzianos) são tratados igualmente, independente de opção religiosa. Ora bolas, se apoia shows gospel (católico e evangélico) está dando preferência a indivíduos que professam estas duas religiões. Com o agravante do prefeito ser evangélico e promover show que enaltece a sua religião com dinheiro público. Como se fosse um show particular pago com dinheiro dos outros! O prefeito ainda não aprendeu que um prefeito não pode tudo! Existem limitações inerentes ao cargo que precisam ser respeitadas.                

Ou será que o prefeito Mirinho Braga acha que a prefeitura é dele até o final do ano? Ou será que o prefeito acha que vivemos em uma teocracia católica-evangélica? Quase como se Búzios tivesse as duas religiões como religiões oficiais.

O estado laico garante e protege a liberdade religiosa de cada cidadão. Nenhuma religião pode gozar de privilégio do poder público. Então porque as duas religiões, católica e evangélica, entre tantas outras religiões professadas na cidade por seus moradores, têm preferência em evento comemorativo do aniversário da cidade? Dia da padroeira é uma coisa. Festas populares de cunho religioso é outra coisa. Mas logo no aniversário da cidade! Somos uma teocracia? 

Conclusão. Como a prefeitura de Búzios não pode apoiar nem se opor a nenhuma religião, por ser laica, não tem outra saída: ou não se promove show religioso nenhum, ou se promove shows de todas religiões existentes em Búzios. Se o prefeito quiser fazer os shows gospel que promova também shows (ou eventos) espíritas, budistas, umbandistas, candombleístas e islâmicos, religiões que têm seguidores em Búzios segundo o último Censo do IBGE (2010). Afinal, Búzios, como cidade internacional que é, poderia dar uma lição de tolerância religiosa ao mundo, promovendo, no mesmo dia, um show evangélico e um show de candomblé. Seria uma maravilha promover a confraternização entre a religião (evangélica) que tem mais seguidores em Búzios e a cultura afro do candomblé, já que temos tantos negros no município. Não seria prefeito? Ou o senhor é fundamentalista evangélico, que acredita que candomblé é coisa do Diabo?


Comentários:

  1. Luiz,
    Aplaudo esta matéria, porque eu e Anny levantamos este debate, no facebook, mas o tema ganhou uma caminho fundamentalista. Então, não há como discutir algo tão sério, nessa ótica. Fomos acusadas de hipócritas, pelo grupo do Prefeito e mal compreendidas pelos evangélicos que se manifestaram. Quanto ao grupo do Prefeito, não me incomodo, porque se somos hipócritas, o que discordo, aprendemos com ele. Mirinho também nos acusou de o estarmos perseguindo. Se isto é verdade, o que discordo, seu mandato deu um show de perseguição àqueles que dele discordaram. Quanto aos Evangélicos, tenho certeza que não concordam com isso, pois, um Prefeito e um povo estão pressionados pelo respeito à Lei, à nossa Constituição. No entanto, vejo que Búzios, em muitos momentos, é um lugar onde há uma falência da lei e da ordem, vide as irregularidades em liberação de condomínio. Não queremos acreditar, mas as aberrações existem, agredindo-nos, aviltando-nos. Além da lei, da Constituição, temos a ética. E prendo-me nisso, porque pastores e padres, com isso, não dão bons exemplos a seus fiéis. Acho que a emancipação da cidade deveria ser comemorada, como você diz, com a INCLUSÃO, base elementar da vida civilizada, organizada. Por isso, um belo culto ecumênico, com músicas e shows de todas as manifestações religiosas seria algo nobre. Mas, Mirinho Braga trabalha (e sempre trabalhou) com a exclusão, com a descivilização, com o retrocesso. Por isso, acredito, nada poderemos fazer. Apenas aguardar que sua partida (e dos seus) da Prefeitura de Búzios, torcendo para que outro tempo renove os ares desta cidade tão bela, mas tão maltratada. Parabéns, mais uma vez, pela matéria.

    Comentários no Facebook:


    • Sidney Yendis Materia totalmente tendenciosa, amadora... se voce não é a favor de shows gospel, então faça-me o favor de nao divulgar tbm sua crenças populares com rodas da candomblé, rituais da sua religião em uma materia com o pretexto de tratar de assunto "laico"...

      Meu comentário:

      Sidney, eu não tenho religião nenhuma. Simplesmente defendo o direito das minorias religiosas receberem  a mesma atenção do Poder Público que as duas grandes religiões da Cidade. Só isso!


2 comentários:

  1. Luiz,
    Aplaudo esta matéria, porque eu e Anny levantamos este debate, no facebook, mas o tema ganhou uma caminho fundamentalista. Então, não há como discutir algo tão sério, nessa ótica. Fomos acusadas de hipócritas, pelo grupo do Prefeito e mal compreendidas pelos evangélicos que se manifestaram. Quanto ao grupo do Prefeito, não me incomodo, porque se somos hipócritas, o que discordo, aprendemos com ele. Mirinho também nos acusou de o estarmos perseguindo. Se isto é verdade, o que discordo, seu mandato deu um show de perseguição àqueles que dele discordaram. Quanto aos Evangélicos, tenho certeza que não concordam com isso, pois, um Prefeito e um povo estão pressionados pelo respeito à Lei, à nossa Constituição. No entanto, vejo que Búzios, em muitos momentos, é um lugar onde há uma falência da lei e da ordem, vide as irregularidades em liberação de condomínio. Não queremos acreditar, mas as aberrações existem, agredindo-nos, aviltando-nos. Além da lei, da Constituição, temos a ética. E prendo-me nisso, porque pastores e padres, com isso, não dão bons exemplos a seus fiéis. Acho que a emancipação da cidade deveria ser comemorada, como você diz, com a INCLUSÃO, base elementar da vida civilizada, organizada. Por isso, um belo culto ecumênico, com músicas e shows de todas as manifestações religiosas seria algo nobre. Mas, Mirinho Braga trabalha (e sempre trabalhou) com a exclusão, com a descivilização, com o retrocesso. Por isso, acredito, nada poderemos fazer. Apenas aguardar que sua partida (e dos seus) da Prefeitura de Búzios, torcendo para que outro tempo renove os ares desta cidade tão bela, mas tão maltratada. Parabéns, mais uma vez, pela matéria.

    ResponderExcluir
  2. Assunto interessante e polêmico, antes de dar o meu "pitaco" vou deixar claro duas coisas: Não moro e nem voto em Búzios ( sou de Cabo Frio e sempre passamos por isso também ) e não tenho religião, sou ateu convicto e assumido desde adolescência ( ano que vem faço 40 anos ).
    .
    Estado laico não precisa significar Estado nulo e indiferente as religiões que cercam o seu povo. Concordo que não se deve ter imagens religiosas em casas que julgam leis ou outros prédios governamentais porque quem precisa ir nesses lugares está lá para resolver problemas, ser de uma forma ou outra julgada e a nossa constituição lhes da o direito de um julgamento justo e imparcial independente de cor, credo, sexualidade e etc. Já no caso de shows musicais e eventos do tipo tem uma grande diferença, já que estamos falando de cultura antes de falar de religião ou gosto musical e se mais de 80% da população local ( estou chutando, não tenho os dados do IBGE mas deve ser por aí ) são formados por católicos e evangélicos, qual o problema de se ter uma banda que tenha esse público como alvo?
    .
    O grande problema seria se houvesse apenas esse tipo de show, se em 10 eventos anuais na cidade só viesse esse tipo de show, o que sei que não é o caso. Em Cabo Frio, por exemplo, temos um festival gospel todo ano bancado pela Prefeitura. Eu não vou, nunca fui, assim como também não irei ao show da Claudia Leite e nem do Dudu Nobre em razão do aniversário da cidade e não vou pelos mesmos motivos, são estilos musicais que não me agradam ( talvez vá para Búzios assistir ao Kid Abelha ). De qualquer forma sei que o Festival Gospel agita a cidade, lota os hotéis e movimenta o nosso comércio, logo, é importante que tenhamos, TAMBÉM, uma data como essa.
    .
    Outra coisa que não entendi é quando você diz: Dia da padroeira é uma coisa. Festas populares de cunho religioso é outra coisa. Ora, amigo, se é contra tem que ser contra SEMPRE, sem exceções, afinal é dinheiro público de qualquer forma. Seguindo o seu pensamento as igrejas que paguem os seus shows, cabendo a Prefeitura o dever de apenas manter a ordem e segurança dos que vão a esses shows.
    .
    Enfim, música, antes de ser religião, é cultura e vai assistir quem quiser. Em Cabo Frio já se trouxe para o teatro daqui peças de cunho espírita e qual é o problema disso??? Nenhum. Não faz meu tipo, não fui assistir. O Governo Federal bancou um filme sobre a vida de Chico Xavier, personalidade que considero um charlatão e como sabia que o filme era para falar bem dele não fui assistir mas nem por isso condeno que se faça filmes sobre Chico Xavier ou sobre outras personalidades brasileiras, afinal é assim que se lembra e engrandece a nossa cultura e entre bancar um filme sobre a vida de Chico Xavier e um sobre a vida de Lula eu ainda fico com o primeiro, o problema é se ficasse somente entre eles mas também acabou de sair um filme sobre os grandes Luiz Gonzaga e Gonzaguinha então não tenho do que reclamar. É cultura e se é boa ou ruim é questão de gosto.

    ResponderExcluir